segunda-feira, 21 de abril de 2008

Alanos

Os alanos constituíam um povo bárbaro (isto é, não falavam latim), com origem no nordeste do Cáucaso, entre os rios Rio Dom e Cáspio, que realizou uma transmigração em direção ao ocidente nos séculos século IV e Século V.




Em 360, os Hunos destruíram o seu império, obrigando muitos a atravessar a Europa até à Península Ibérica (em 408 ou 409 ). Nesta migração, acabaram por se juntar aos suevos e aos vândalos que ocuparam simultaneamente com estes a Hispânia. Os alanos que permaneceram a nordeste do Cáucaso passaram a designar-se por Tártaros. Aqueles que se estabeleceram na península Ibérica fundaram um reino na Lusitânia, chefiado por Adax (ou Adaces ), que foi destroçado em 418, obrigando-os a seguir para o norte de África onde sob os reis Gunderico e Geiserico , fundam o Reino dos Vândalos e dos Alanos, que será extinto no século VI, com a dominação bizantina. Os alanos ou alani eram um grupo nômade iraniano entre os povos sármatas, pastores nômades prontos para a guerra de diversas origens, que falavam uma línguas iranianas e compartilhavam, num sentido amplo, de uma cultura comum.

Alanos antigos

As primeiras menções que os historiadores ligam com Alani aparecem quase na mesma época na geografia greco-romana e algum tempo depois nas crônicas dinásticas chinesas do século I a.C. . A Geographia (livro 23, cap. XI. v) de Estrabão , que nasceu em Pontus no Mar Negro , mas que também trabalhou com fontes persas, a julgar pelas formas que ele dava aos nomes tribais, menciona os Aorsi que ele liga com Siraces e afirma que Spadines, rei dos Aorsi, poderia juntar duzentos mil arqueiros montados na metade do século I a.C. Mas o "Aorsi interior", de onde tinham partido como fugitivos, poderia enviar muito mais, para que eles domunassem a região costeira do Mar Cáspio :"e conseqüentemente eles poderiam trazer em camelos as mercadorias indianas e babilônias, recebendo-as dos Armênia e dos medos , e também, devido à sua riqueza, poderiam vestir ornamentos de ouro. Agora os Aorsi vivem junto ao Rio Don (Rússia) , mas os Siraces vivem junto ao Rio Kuban , que desce do Cáucaso e deságua no Mar de Azov ." Identificações seguras de nomes e lugares nas antigas crônicas chinesas são até mais especulativas, mas alguns séculos depois, na antiga crônica chinesa da Dinastia Han , a Hou Han Shu (que cobre o período de 25 - 220) menciona um registro que as estepes de Yen-ts'ai era então conhecida como Alan-liao (阿蘭聊): :"O reino de Yancai (Yen-ts'ai, "Grande Estepe") mudou seu nome para reino de Alanliao. Sua capital é a cidade de Di. É uma dependência de Kangju (centralizado em Tashkent . O clima é ameno. Crescem árvores, pinheiros e acônitos são abundantes. Seu modo de viver e de se vestir são so mesmos de Kangju." Em outra seção o Hou Han Shu registra: :"É dito: "A cerca de 2.000 li (832 km) a noroeste de K'ang-chü está o estado de Yen-ts'ai. Os arqueiros treinados são 100.000. O modo de vida é o mesmo de K'ang-Chü. Está situado no Grande Pântano, não tendo [até então] regiões costeiras." O "Grande Pântano" talvez fossem as terras alagadas do delta do Danúbio , que era um formidável obstáculo que desacelerou o movimento em direção a oeste de muitos nômades sendo mais impressionante ou até os mais expressivos pântanos da atual Bielorrússia e norte da Ucrânia . Dessa forma no começo do século I , os alanos tinham ocupado terras nas regiões a nordeste do Mar de Azov , ao longo do rio Don (Rússia) . As fontes escritas sugerem que a partir da segunda metade do século I ao século IV os alanos conquistaram a supremacia sobre a união tribal e criaram uma confederação poderosa de tribos sármatas. Os alanos causaram problemas ao Império Romano , com incursões nas províncias do Danúbio e do Cáucaso nos séculos II e III. Heródoto descreve os alanos como altos, louros com os homes cortando seus cabelos curtos diferente dos Cítia . Ammiano Marcellino considera os alanos como sendo os antigos Massagetae: "iuxtaque Massagetae Halani et Sargetae", "per Albanos et Massagetas, quos Alanos nunc appellamus", "Halanos pervenit, veteres Massagetas." Achados arqueológicos apóiam as fontes escritas. Sítios sármatas posteriores foram inicialmente identificados com os alanos históricos por P. D. Rau. Baseado no material arqueológico, eles eram uma das tribos nômades de língua iraniana que começaram a entra na região sármata entre a metade do século I e o século II.


Mapa do Império Romano sob Adriano (117-138 dC),
mostrando a localização dos Alani na região nordeste do Cáucaso.

Os Alani foram mencionados pela primeira vez na literatura romana no século I e foram descritos depois como um povo guerreiro especializado na criação de cavalos. Eles freqüentemente faziam incursões no Pártia e nas províncias do Cáucaso do Império Romano. Nas anotações de Vologeses pode-se ler que Vologeses , rei parta, no décimo-primeiro ano de seu reinado, batalhou contra Kuluk, rei dos Alani. A inscrição é suplementada pelo historiador contemporâneo Flávio Josefo (37-100), que registra nas Guerras Judias (livro 7, cap. 8.4) como os alanos, (a quem ele chamade de uma tribo cita) vivendo próximos ao Mar de Azov , cruzaram os Portões de Ferro para pilhar e derrotar os exércitos de Pacorus, rei da Império Medo-Persa e Tiridates, rei da Armênia , dois irmãos de Vologeses I para quem a inscrição foi feita: :"4. Então havia a nação dos alanos, que nós havíamos mencionado anteriormente como sendo citas, e que habitavam no Mar de Azov . Essa nação aproximadamente nessa época projetou atacar a Império Medo-Persa , e as partes além dela, para saqueá-las; com essa intenção eles negociaram com o rei de Gorgan ; ele era o senhor da passagem que o rei Alexandre, o Grande fechou com portões de ferro. Este rei os autorizou a atravessá-los; então eles vieram em grande quantidade, e atacaram os medos de modo inesperado e pilharam seu país, que eles encontraram repleto de pessoas, abundante em gado, e ninguém se atrevia a fazer qualquer resistência a eles; Pacorus, o rei do país, fugiu para lugares de difícil acesso, e recuou toda vez que os alanos o obrigaram, salvando apenas sua esposa e suas concubinas com muita dificuldade, após eles terem feito muitas prisioneiras, tendo pago a eles cem talentos como resgate. Estes alanos pilharam o país sem oposição, com tranqüilidade, e proseguiram até a Armênia, deixando um rastro de ruínas por onde passavam. Então Tiridates era o rei daquele país, que os encontrou e os atacou, e conseguiu sair vivo por pouco da batalha; um guerreiro jogou sobre ele uma rede de uma grande distância, puxando-o para perto, tendo ele cortado a corda da rede com sua espada, fugindo e se salvando. Então os alanos, ficando ainda mais irritados por isso, devastaram o país, escravizaram uma grande quantidade de homens, e uma grande quantidade de outras pressas eles obtiveram de ambos os reinos, e então, recuram para o seu país." Flavius Arrianus ( Arriano ) marchou contra os alanos no século I e deixou um registro detalhado (Ektaxis kata Alanoon ou "Guerra Contra os Alanos") que é a maior fonte de estudos das táticas militares romanas , mas que não revela muito sobre os alanos.

Os alanos 'ocidentais' e os vândalos


Migrações dos Alanos entre os séculos IV e V.

Aproximadamente em 370 os alanos foram sobrepujados pelos hunos . Eles foram divididos em dois grupos. Um dos grupos fugiu para oeste. Esses alanos 'ocidentais' se uniram às germanos na sua invasão da Gália romana. Gregory de Tours menciona que seu rei Respendial salvou o dia para os vândalos num encontro armado com os francos ao cruzar o rio Reno (cerca de 407).




Acompanhando o destino dos vândalos na península Ibérica (Hispânia) em 409, a identidade étnica separada dos alanos ocidentais se desfez. Embora alguns dos alanos se estabelecessem na Ibéria, a maioria seguiu com os vândalos para o norte da África em 429. Em 426, o rei alano ocidental Attaces, foi morto na batalha contra os visigodos , e esse ramo dos alanos subseqüentemente apelou ao rei vândalo Gunderico para aceitar a coroa alana. Depois os reis vândalos do norte da África se auto-intitularam Rex Wandalorum et Alanorum (Rei dos Vândalos e Alanos). Na Hispânia , os alanos eram famosos por seus cães de caça e ataque, que eles aparentemente introduziram na Europa . Uma raça de cão muito grande chamada alano sobrevive no País Basco . Os cachorros, que são tradicionalmente usados na caça de porcos selvagens e pastoreio de rebanhos, são associados com os fortes cachorros que os alanos e os vândalos trouxeram para a Ibéria.

Alanos e eslavos

As tribos alanas que viviam a norte do Mar Negro devem ter se deslocado para nordeste no que hoje é a Polônia , misturando-se com os povos eslavos locais que se tornariam os precursores das nações eslavas históricas (em especial sérvios e croatas ). Inscrições do século III de Tanais , uma cidade às margens do rio Don na moderna Ucrânia , menciona uma tribo alana próxima chamada de choroatos ou chorouatos. O historiador Ptolomeu identifica os serboi como uma tribo sármata que vivia ao norte do Cáucaso , enquanto outras fontes identificam os serboi como uma tribo alana da estepe do Volga-Don no século III. Descrições desses nomes reaparecem no século V , com os serboi, ou sérvios , estabelecidos a leste do rio Elba no que agora é a Polônia, e os croatas na atual Galícia (Europa Central) polonesa. As tribos alanas provavelmente se deslocaram para nordeste e se estabeleceram entre os eslavos, dominando e recrutando as tribos eslavas que eles encontravam e depois assimilando as populações eslavas. Em 620 os croatas e os sérvios foram convidados para se estabelecerem nos Bálcãs pelo imperador bizantino Heraclius para fugir dos ávaros turcos, e lá se estabeleceram entre os migrantes eslavos para se tornar os ancestrais dos modernos sérvios e croatas. Alguns sérvios permaneceram no Elba , e seus descendentes são so modernos sórbios . Descrições bizantinas e árabes do século X descrevem um povo chamado belochrobati ( croatas brancos ) vivendo no alto Vístula , numa área chamada Chrobatia.

Os alanos 'orietais' e os hunos

Alguns dos demais alanos, que permaneceram sob o domínio huno, estavam entre os confederados na batalha do rio Halys, na Anatólia em 430 . Esses alanos 'orientais' são citados como ancestrais dos modernos ossétios do Cáucaso. Aqueles da divisão oriental, apesar de dispersos nas estepes até a Idade Média , foram forçados pelas novas ordas de invasores para o Cáucaso, onde permaneceram tornando-se os ossétios. Seu mais famoso líder foi Aspar , o magister militum do Império Bizantino durante a década de 460 . Esses alanos formaram uma rede de confederações tribais entre os séculos IX e XII.

Alânia medieval

No século VIII , um reino alano consolidado, é citado nas fontes do período como Alânia, surgiu no norte do Cáucaso, aproximadamente onde hoje estão a Circássia e a Ossétia . Sua capital era Maghas , que controlava a vital rota de comércio da Passagem Darial. Por algumas vezes eles tiveram uma saída para o mar via o antigo porto da cidade de Phasis. No século VIII, o reino alano no Cáucaso caiu sob a soberania do caganato cazaro . Eles foram leais aliados dos cazaros, apoiando-os contra uma coalização liderada pelos bizantinos durant o reinado do rei cazaro Benjamin (cazaro) . De acordo com o autor anônimo da Carta Schechter , muitos alanos durante esse período aderiram ao Judaísmo . Contudo, no início do século IX , os alanos caíram sob a influência do Império Bizantino, possivelmente devido à conversão de seus governantes ao Cristianismo . Os bizantinos, que haviam adotado uma política externa anti-cazaros, envolveram os alanos numa guerra contra o caganato durante o reinado do governante cazaro Aaron II (cazaro) , provavelmente no começo da década de 920. Nessa guerra os alanos foram derrotados e seu rei capturado. De acordo com fontes muçulmanas tais como o al-Masudi , os alanos abadonaram o Cristianismo e expulsaram os missionários e clérigos bizantinos aproximadamente na mesma época destes eventos. O filho de Aaron II casou com a filha do rei alano e a Alânia foi re-alinhada com os cazaros, assim permanecendo até o colapso do caganato na década de 960. Desde então, o rei alano se aliou freqüentemente com os governantes bizantinos e com vários governantes georgianos como prevenção contra invasões dos povos das estepes como os pechenegues e os quipichaques . Aproximadamente em 1395 o exército de Tamerlão invadiu o norte do Cáucaso e massacrou a maior parte da população alana.

As invasões mongóis e suas conseqüências

No século XIII , novas hordas de invasores mongóis empurraram os alanos orientais para o sul do Cáucaso, onde eles se mesclaram aos grupos nativos caucasianos e sucesivamente formaram três entidades territoriais cada uma com desenvolvimento diferente. Digor no oeste estava sob a influência Islão e cabarda; Tuallag na região mais ao sul tornou-se parte do que hoje é a Geórgia ; Iron, o grupo mais ao norte, caiu sob o domínio russo em 1767 , o que fortaleceu o Cristianismo Ortodoxo consideravelmente. A maioria dos ossétios hoje são cristãos ortodoxos orientais. Os alanos remanescentes falam uma língua única sendo eles os ossétios, divididos entre a Rússia e Geórgia. Há uma minoria ossétia na Chechênia também. Jacob Reinegg, na Descrição do Cáucaso, deve ter sido o primeiro a fazer essa conexão. Ele notou que os tártaros os chamavam de Edeki-Alan. Sua língua, o ossétio, pertence ao grupo de línguas norte-iranianas; é a sobrevivente do ramo de línguas iranianas conhecido como cita-sármata, que inclui línguas das estepes russas e da Ásia Central: citas, sármatas, massagetae, alanos. O moderno ossétio possui dois dialetos principais: digor, falado na parte ocidental da Ossétia do Norte; e iron, falado no resto da Ossétia. Um terceiro ramo do ossétio, jassic, foi anteriormente falado na Hungria. A língua literária, baseada no dialeto iron foi estabelecido pelo poeta nacional Kosta Xetagurov (1859-1906). Nos séculos IV e V eles foram parcialmente cristianizados pelos missionários bizantinos da igreja ariana. O Islã foi introduzido no século XVII pelos cabardianos (uma tribo circassiana oriental). Uma forte re-cristianização foi iniciada com o aumento da influência russa após o reconhecimento pelos ossétios da soberania russa em 1802.

Fonte: Wikipédia


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